Sobre Filhos e Dignidade

Vamos falar um pouco de corrupção! Desta corrupção sistêmica que assola o Brasil desde sempre e que parece ser indiferente a lados, partidos, polarizações e bandeiras. Mensalão, cuecas forradas de dinheiro, propinas, compras suspeitas em dinheiro vivo, rachadinhas e muitas outras modalidades de corrupção. Cada vez que leio algo a respeito, reflito sobre o assunto. Aliás, sempre procuro, antes de julgar alguém, colocar-me no lugar dessa pessoa. Será que comigo seria diferente? No caso em tela, será que eu aceitaria receber um mensalão? Será que eu aceitaria propina, de algum modo? A primeira resposta que me vem à cabeça é NÃO! Nunca aceitaria uma propina, de quem quer que seja. Prefiro sentar na poltrona de minha casa, ao fim do cotidiano de um dia, e olhar para os meus filhos com a consciência limpa, de quem tem cacife para tentar passar algo de bom para eles.

O que leva um deputado, com um bom salário, a aceitar um troço desses? O que leva um delegado da polícia federal, com um bom salário e um compromisso com a sociedade, a envolver-se em propinas? Por quê? Aí minha mente crítica torna a me questionar sobre minha moralidade. E se eu só sou assim por causa do meio em que vivo? Afinal, não somos todos influenciados pelo ambiente em que vivemos? E se eu estivesse no cargo de um desses corruptos e o meio me influenciasse? E se eu passasse a ficar inebriado com a sensação de poder? E se eu passasse a me sentir vaidoso e divinal com a mordomia e com pessoas me bajulando? E se para ser aceito neste novo meio eu precisasse rever meus conceitos? E se para ser aceito por estas pessoas eu precisasse fechar os olhos para certas coisas, embora estas coisas não fossem lá muito honestas?

Minha mente brincalhona gosta de usar muito o pronome “se”. Ela sabe que não sou um poço de virtudes e que tenho muitos defeitos. Ela sabe que nem sempre eu sou um cara legal! Ela sabe que nem sempre fui um modelo a se seguir! Mas mantenho o meu posicionamento quanto à corrupção: procuro ser honesto, ser motivo de orgulho para meus filhos. Não há nada mais gostoso que sentar numa mesa e tomar um chopp com os amigos sem qualquer drama de consciência: o chopp dos justos! O chopp de quem não recebe mesadas! O chopp de quem ganha pelo seu suor e só guarda na cueca seu instrumento de trabalho! Nesses tempos de culto exacerbado ao dinheiro, continuo preferindo o olhar tranquilo de meus filhos a uma conta corrente polpuda. Nesses tempos de culto exacerbado ao “eu”, onde número de curtidas valem mais que um abraço e onde os relacionamentos efêmeros e rasos de redes sociais valem mais que velhos amigos, continuo preferindo ter meus poucos e fiéis amigos de sempre (não tantos que eu não possa contar nos dedos de minhas duas mãos) a ter uma infinidade deles, nascidos da fértil atmosfera do poder, do dinheiro e da banalidade. Prefiro assim, como estou. Que Deus me conserve assim!

Sérgio Idelano

 

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