Daniel na cova dos leões

O título aí acima não se refere à famosa história bíblica! Eu não ousaria adentrar em um rio cujas águas desconheço. Falo aqui da extraordinária música do Legião Urbana, contida no icônico álbum Dois! Esta música ficou um pouco escondida no meio de um álbum fantástico e cheio de sucessos, com músicas como Quase Sem Querer, Eduardo e Mônica, Tempo Perdido, Índios, Química e tantas outras que fizeram tanto sucesso nas rádios da época. Uma pena que ela tenha sido meio escanteada, porque é uma música fantástica e cheia de sabedoria.

E toda a sabedoria dela, tudo o que precisamos saber, todo o seu ensinamento, todo o sentido da vida está contido no último refrão:

“Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos
É o mal que a água faz, quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos”.

Porque é isto que somos! Todos nós! Somos barcos a motor e insistimos em usar os remos! Temos potencial e não acreditamos neste potencial. Podemos ir muito além e ficamos amarrados, feito âncoras, por medo, insegurança e falta de confiança em nós mesmos! Temos medo do desconhecido! Temos medo do mundo lá fora! Temos medo do que está fora do nosso quadrado, de tudo que virá após levantarmos da cama de manhã! Temos medo de errar! Temos medo de arriscar! Temos medo de imaginar o que os outros pensam de nós! Temos medo de cometer um deslize, e não poder consertar! Temos medo de atravessar um ponto do qual não poderemos voltar! Temos medo da decepção! Temos medo de baixar a guarda! Temos medo de ser julgados! Temos medo de ser feridos! Temos, como diz outra estrofe desta música soberba, medo de ter medo de ter medo! E por isso, por causa desse tanto de medo, insistimos em usar os remos, apesar de sermos barcos a motor!

E isso nos aprisiona! Isso de ter medo! Porque o desconhecido é o que ainda está para conhecer. É no mundo lá fora onde temos aventuras a viver! O nosso quadrado nós já conhecemos! Temos que conhecer e vivenciar outros quadrados e outras formas! Porque é errando que se acerta, é arriscando que se aperfeiçoa e se descobre. O que os outros pensam de nós não deveria importar tanto! Todo mundo é passível de erro e ninguém é melhor que ninguém. Se errarmos podemos sim, na maioria das vezes, consertar! Se pegarmos um caminho errado podemos sim, na maioria das vezes, corrigir a rota! Porque o medo da decepção pode nos afastar do amor! O medo do julgamento alheio pode nos afastar da crítica construtiva! O medo de ser ferido pode nos afastar do extremo prazer de ser amado! Nós somos barcos a motor! Temos que explorar o potencial deste motor! Sua potência! Até onde ele pode ir!

E aí vem a segunda parte do problema. E se o motor falhar? Porque o fato de sermos barcos a motor não quer dizer que este motor não pode falhar. Problemas acontecem. E é aí onde entra o salva-vidas. Ou onde deveria entrar, pois este é o outro grande problema, a outra grande equação passada por Renato Russo: na maioria das vezes nós não o vemos! Ele está ao nosso lado, mas nós não conseguimos enxergar! Quais são estes salva-vidas que não enxergamos? Ora, nós mesmos, aquela pessoa que está ao nosso lado, um amigo, um amor, uma pessoa em que confiar. Sempre temos um salva-vidas ao nosso lado, um anjo da guarda, alguém com quem podemos contar! Mas é preciso saber olhar para o lado, é preciso se permitir, é preciso até mesmo amor para aceitar um ato de amor!

Nós somos barcos a motor! Por que insistimos em usar o remo? Vamos ter confiança em nós mesmos! Vamos tentar! Vamos se importar menos com o que os outros pensam! Vamos errar, e errar, e errar, para uma hora então acertar! Porque somos barcos a motor! E se o motor alguma vez falhar (e isto acontece sim), vamos lembrar sempre que o salva-vidas está lá sim! Basta querer enxergar! Muitas vezes basta olhar para o lado! E este olhar para o lado tem que ser despido de preconceito, do medo de ser julgado, do medo de dever favor. Este olhar para o lado tem que ser de coração aberto. O salva-vidas está lá. Basta procurar. Porque o pior mal que podemos fazer a nós mesmos é sermos água e mesmo assim nos afogarmos! Pensemos sobre isto!

Sérgio Idelano

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