A HISTÓRIA DA MULHER
No começo tudo eram trevas e escuridão. Não existiam mares, não existiam florestas, e não existia a mulher! Então Deus, entediado com todo aquele “nada”, pôs mãos à obra, e criou os mares, os rios, as florestas, as montanhas, os Alpes suíços e tudo o mais que existe em termos de paisagens. Deixou apenas um pequeno espaço em branco para seus ajudantes celestiais fazerem alguma coisa, e estes criaram o deserto do Saara, provocando grande ira em Deus. Mas Deus logo perdoou a incompetência destes e, vendo que tudo aquilo era lindo (à exceção do deserto, claro), achou que era triste ter tanta beleza para nenhum habitante, e resolveu criar os animais. Criou o leão, a girafa, o cachorro, o gato, o lobo, os pássaros, os répteis e tudo que é de bicho que existe hoje. Mais uma vez é importante frisar que Deus não criou o ornitorrinco. Ele foi um rascunho errado que Deus jogou no lixo, e que seus assistentes, inadvertidamente, colocaram no meio dos outros. Quando Deus percebeu, o bicho já tinha sido criado, e Ele, embora puto da vida, não teve coragem de tirar uma vida.
E Deus ficou satisfeito consigo mesmo por um bom tempo. Até que Ele passou a se martirizar por sua solidão. Está certo que Ele tinha sua legião de seguidores, mas estes não serviam como companhia. Viviam à sua sombra, concordando com tudo o que surgia em sua mente absoluta e puxando seu saco. Foi então, no meio dessas angústias, que Deus resolveu criar o homem. Reuniu seu staff e passou a falar de seus planos. Não encontrou muito eco nos seus projetos. Todos concordavam por obrigação, mas no fundo Ele sabia que esperavam que as ideias não fossem pra frente. Estavam acostumados àquela existência igual e não viam motivo para mexer em nada. Mas Deus não se deixou desanimar, e passou a pensar em sua mais nova criação: o Homem!
Depois de muito bater cabeça, um de seus súditos deu uma sugestão válida. Falou como quem não quer nada, em meio a um suspiro de tédio: “Vossa onipotência podia poupar sua privilegiada mente e fazer esse homem a partir de um dos rabiscos que fizestes para os animais. Como é mesmo o nome daquele animal que anda de pé”? Era o macaco! E Deus fez o esboço do homem sobre o esboço do macaco e, muito tempo de estudo e muitas provas mal acabadas depois, finalmente chegou ao resultado final: Adão, seu primeiro homem. Orgulhoso de sua criação, desceu com Adão para a terra e a entregou a ele: “Aqui reinarás sobre todos os outros animais. Siga meus preceitos e seja justo”! E então, após apresentar Adão a todos os animais, subiu, satisfeito, embora, ao olhar para Adão, não conseguisse evitar de pensar: “Porra, eu tinha capacidade de fazer coisa melhor”!
E Deus ficou lá de cima, observando. Vez em quando, descia para conversar com Adão, mas sempre subia meio entediado com as conversas que tinha. Adão só queria falar de duas coisas: um jogo que ele criou com o macaco, e que consistia em chutarem uma cabaça de um lado para outro e cujo objetivo é enfiar a cabaça dentro de uma caverna; e alguma coisa que povoava sua mente, e que ele não sabia bem o que era ainda, só que era bem prazeroso e não podia ser feito sozinho. Então Deus, sem fazer alarde, sem pressa, voltou à mesa de projetos e começou a trabalhar em algo grandioso, um ser pleno, dotado de beleza e inteligência superiores. Não pediu ajuda para ninguém: essa era uma criação só sua, a mulher! Deus, primeiro, concentrou-se nos seios e no bumbum. Só depois de muito tempo, quando achou que essas duas peças estavam na proporção e beleza ideal, começou a desenhar o restante do corpo. E após muito, muito, muito tempo, tanto tempo que seria impossível contar através dos cálculos humanos, Deus terminou a mulher, e guardou com carinho sua criação para o momento propício.
E o momento ideal surgiu quando, em uma das descidas do Criador à terra para conversar com Adão, encontrou este suado, fedendo e trocando sopapos com o macaco por conta de uma querela no jogo das cabaças. Então Deus perdeu sua infinita paciência, pegou Adão, arrancou uma de suas costelas, sem anestesia, e, enquanto este arfava de dor, criou Eva, sua 1ª mulher, uma verdadeira gata, segundo consta nos anais da época! E Adão, embora cheio de dor, olhou para Eva, e ficou abismado diante de tanta beleza, e esqueceu por algum tempo o jogo das cabaças, e só tinha olhos para ela naquele pedaço de paraíso…
E então Deus apresentou oficialmente Eva para Adão, e falou, olhando nos olhos de Adão: “Esta é a mulher. A partir deste momento, ela é quem manda por aqui. Sua missão é servi-la e atender seus mínimos caprichos. Você, como um ser inferior a ela, deve cuidar, amar e servir”. E, atenção, disse Deus com seriedade: “Por ser ela um ser bem mais belo e inteligente, é também mais frágil fisicamente, embora bem mais forte interiormente. Portanto, nunca, nunca mesmo, aproveite-se desta superioridade física, a única que resta a você, para sobrepujar minha maior criação. Nunca levante a mão para ela, nunca agrida ela, nem física, nem moralmente. Nunca a faça chorar. Dê apenas amor, carinho, compreensão e orgasmos a este ser. Todo o resto é pecado”! Adão ainda perguntou, com voz sumida, o que era pecado e orgasmo, mas Deus gritou: “Não me interrompa! Apenas anote tudo isso que falei. E memorize”. Então virou para um de seus assistentes, que tinha descido junto com a missão de anotar a ata da reunião: “Ah, e anote aí também que eles gerarão descendentes, descendentes estes que nascerão do homem, com dor e sofrimento”. Bom, não preciso dizer que o assistente confundiu tudo, e a questão da gravidez sobrou para mulher. Mas ela se saiu muito bem, e Deus viu que foi melhor assim, e perdoou a falha.
E o resto da história, todos nós sabemos. A mulher tornou o paraíso muito mais agradável, depois comeu a maçã, porque mulher quando bota uma coisa na cabeça não tem quem tire, e saiu do paraíso para preencher o restante do mundo, e trouxe a este velho mundo algumas porções de sensatez, simpatia, beleza, amor, dedicação, coragem, princípios e muitos outros adjetivos que não cabe a um homem enumerar. E Deus perdoou a mulher, que continuou sendo sua mais bela criação, e assim foi e continua sendo durante todos esses séculos até os dias de hoje, e será por todo o sempre. E a nós, eternos escravos, mesmo que alguns se enganem a esse respeito, resta a missão de reverenciá-las, o que, para mim, é uma missão nobre.
Sérgio Idelano
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