Qual o efeito do tempo sobre nós? Como cada um de nós se olha no espelho? Como aceitamos o envelhecimento? Virou uma brincadeira aqui no Tribunal um encontro que tive com o Pedro Luz, um gerente da época em que eu era funcionário do Banco do Brasil. Ele me encontrou aqui no TCE 25 anos depois e, em uma sala lotada, durante um seminário, na frente de todo mundo, gritou com sua característica voz de trovão: “Sérgio Idelano?? É você mesmo?? Rapaz, o tempo passa mesmo para todo mundo! Fala sério! Você está irreconhecível”! Disse isto e virou para a plateia, que já assistia divertida a cena, e completou: “Quando este cara assumiu o Banco do Brasil em Curimatá foi um alvoroço. Todas as mulheres solteiras da cidade ficaram apaixonadas por ele. Agora o vejo aqui, e percebo o quanto o tempo é cruel. Que coisa”! A história espalhou por aqui e passamos a chamar o fenômeno de Efeito Pedro Luz, e passamos a usar o termo sempre que queríamos nos reportar à passagem do tempo e quando queríamos dizer que alguém estava acabado ou envelhecido. Tipo, a gente virava para a pessoa e falava: “Cara, o efeito Pedro Luz está bem presente em você”! Quanto a mim, primeira vítima do nefasto termo, eu me diverti muito com a história. O tempo passa mesmo! Somos todos andarilhos e quanto mais andamos mais tempo de estrada temos e mais poeira trazemos na roupa.
Envelhecer é difícil para todo mundo. E o mais difícil de tudo é a eterna diferença entre nossa idade mental e nossa idade cronológica. Eu já falei sobre isto antes. Nosso corpo envelhece mas, muitas vezes, nossa mente é jovem. E aí a grande sacada é saber o equilíbrio entre a mente e o corpo. O equilíbrio entre a juventude de nossa cabeça e as limitações de nosso corpo físico. Envelhecer é difícil, mas pode ficar muito mais difícil se não aceitarmos isto como uma coisa natural. Ter a mente jovem, mas aceitar a passagem do tempo. Se não conseguirmos este equilíbrio corremos o risco de um dia olharmos para o espelho e não conhecermos a pessoa que nos encara do outro lado. É preciso encarar de frente a passagem do tempo, a brevidade da vida, a efemeridade dos momentos e todas as angustias que estas questões nos trazem. É preciso entender que a vida nada mais é que uma sequência de momentos, e que estes momentos passam. E pior, passam muito rapidamente! Por isso a importância de aproveitarmos cada bom momento que a vida nos traz – um vinho ao pôr do sol, um encontro de amigos, um dia de chuva, o sorriso de um filho e a presença das pessoas que amamos ao nosso lado. Tudo é passageiro, tudo escorrega rapidamente pelos nossos dedos. No final restam apenas as boas lembranças.
E nisso tudo surge a velha alegoria da vida eterna. Quantos de nós gostaríamos de viver para sempre? Ou de ser jovem para sempre? E quão poucos de nós percebermos que o tempo escorre rapidamente pelas mãos, e que seria muito mais proveitoso aproveitar a beleza de cada momento? A beleza de ser jovem, de amadurecer, e até mesmo de envelhecer. Toda nossa existência é bela, e tanto mais bela porque é breve. Passaremos e logo seremos esquecidos, esta é a grande verdade, e o nosso momento é o agora. E não adianta tentar enganar o tempo. Ele é muito mais esperto que nós. Podemos ver seu efeito quando olhamos nossas velhas fotografias. A fotografia é uma arte cruel! Ela escancara nossa mortalidade! Ela joga na nossa cara a passagem do tempo! Ela nos ensina que tudo é efêmero e passageiro! Ela nos mostra o quanto devemos valorizar os momentos felizes! Nada sabemos do nosso futuro, a não ser que envelheceremos e passaremos, se tivermos esta sorte. A fotografia é uma arte cruel para quem não aceita os efeitos do tempo!
Não existe nada melhor que olhar um velho álbum de fotografias e lembrar dos velhos tempos. Desde que saibamos aceitar os efeitos do tempo. Desde que o efeito Pedro Luz não seja uma pedra no nosso sapato. Desde que ainda nos sintamos dentro da boa energia, apesar das adversidades, da passagem do tempo, do cansaço, da idade e das dificuldades. Temos que continuar e seguir em frente com a cabeça erguida. Seguir em frente: estas são as palavras mágicas. Porque estas são palavras jovens. Estas são palavras de esperança. Estas são palavras de quem não desistiu. Como a dizer estou dentro! Estou no barco ainda! Ainda topo a vida! Não desisti! Não parei! Ainda desejo continuar! Ainda não me dei por vencido! Ainda acredito que existem inúmeras portas a serem abertas, e todas elas dão para um futuro que ainda não conheço! Ainda acho que vale a pena! Estou dentro!
De resto, estou ficando velho mesmo. E com certeza não estou ficando melhor do que eu era 30 anos atrás. Mas não tenho medo do espelho não! Foda-se o efeito Pedro Luz! O que eu quero mesmo é acordar todo dia e saber que logo ali, depois da curva da esquina, ainda me espera o desconhecido!
Sérgio Idelano
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