Tenho uma profunda sensação de solidão nos domingos à noite. Não importa quem esteja ao meu lado, não importa o quão feliz eu esteja, não importa. A solidão chega até mim, e arrasta-me para junto dela. Sempre achei que, se algum dia eu resolvesse desistir de tudo, esse dia seria um domingo, começo da noite, ouvindo ao fundo a vinheta do Fantástico. Claro que eu jamais desistiria de tudo, estou apenas ilustrando a angústia que sinto nesse dia. Até porque ele é só um dia, contra os outros seis.
Devo confessar que o domingo começa geralmente bem, sem sinal de melancolia. Tomo uma cervejinha na casa de meu pai, almoço e dou uma pequena cochilada. Daí, levanto e vou assistir ao jogo do Flamengo com a velha turma de fanáticos sofredores de sempre. Após o jogo, volto para minha casa, e o domingo penetra em minhas entranhas. Antes que algum engraçadinho diga que está aí o motivo da depressão, refuto a sugestão, uma vez que, mesmo quando meu time ganha, meu estado de espírito decai ao anoitecer.
Não sei o que torna esse dia tão triste. Talvez o fato de Deus ter descansado aqui. Ou seja, está de folga, não podemos sentir sua presença como nos outros dias. Talvez o silêncio das ruas, em locais que normalmente ficam lotados no resto da semana. Talvez os domingos quentes e angustiantes dos livros de Gabriel García Márquez, que trago entranhados em minha alma de leitor fanático. Talvez!
Mas, por outro lado, talvez o domingo esteja dentro de mim. Dentro de minha alma. Talvez sejam retratos de minhas velhas angústias de adolescência, que naquele dia encontravam terreno fértil para a propagação. Talvez sejam flashes de visitas a casas escuras e sombrias, povoadas por mortos que se recusavam a abandoná-las. Talvez velhas reminiscências de estudante, a angústia pelo dia seguinte que viria e o recomeço de tudo de novo. Talvez a irrigação molhando melancolicamente uma plantação de melancia no meio do lusco-fusco triste de um entardecer. Talvez!
Mas, sobretudo, talvez o medo do amanhã, da incerteza do amanhã. O domingo é o grande divisor de águas. É o momento da incerteza, é o medo da morte. Passando-se por ele, o resto é a segurança de dias normais, de trabalho e de vida. Passando-se por ele, o resto é a vida a ser vivida, as pessoas que amamos, a delícia de ser surpreendido, as coisas novas, o futuro e o que ele pode trazer. Passando-se por ele, o resto é o olhar no horizonte e a esperança de dias melhores! Passando-se por ele, toda a imortalidade do tempo que ainda nos resta.
Sérgio Idelano
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