Por Sérgio Idelano
Percebo há muito tempo o grande constrangimento que nós, seres
humanos, temos em falar que não sabemos algo que nos perguntam. E este constrangimento é ainda maior quando o assunto trata de coisas que, em tese, deveríamos dominar. E eu digo em tese porque na verdade não temos obrigação de dominar nada. Temos sim, se esta é nossa área e nosso trabalho, que estar sempre nos atualizando, estudando e pesquisando. Este é um ponto. O outro, completamente diferente, é termos obrigação de saber todas as respostas. E achamos que temos esta obrigação. Percebo na mesma hora quando vou tratar algo com um colega, por exemplo, e ele começa a enrolar e a divagar sobre pontos distintos daquele o qual eu inquiri. Porra! Custa dizer que não sabe? Custa dizer que não está seguro sobre aquele fato? Não há vergonha alguma nisso! Não temos a obrigação de sermos experts em tudo!
Sério, às vezes estou em minha sala e chega um gestor com
algum questionamento sobre algo do qual não faço a mínima idéia. Sabe o que eu falo? Olho fixamente nos olhos e falo: “Cara, eu não sei a resposta para a sua pergunta. Mas vou conversar com meus colegas. Você pode me retornar amanhã”? Simples! Não vou ficar enrolando ninguém! Fazer isso é insegurança! É falta de humildade! Precisamos ser mais humildes! Precisamos ser mais honestos, com os outros e conosco! É esta matéria prima que anda faltando no Brasil: honestidade!
Só para ilustrar este fato, o de que temos sérios problemas em
reconhecer que não sabemos sobre algo, vou contar uma história que
aconteceu no meu tempo de faculdade. Existia um colega nosso do curso de agronomia que estava sendo “perseguido” por um tio para que desse jeito em um pé de goiaba que ele tinha e que estava sendo destruído pelas lagartas. O tio já havia mandado recado, ligado, mandado mensagem e implorado para que ele fosse à sua casa, antes que as lagartas acabassem com seu pé de estimação.
Nosso colega, que fazia agronomia há apenas um ano e que não tinha pagado ainda nenhuma disciplina de entomologia ou fruticultura, ficou adiando a decisão e inventando desculpas, até o dia em que esse tio chegou de surpresa num barzinho em que nós bebíamos perto da universidade e pegou-o pela mão: “Vamos ali rapidinho. Eu te trago já de volta. Só quero que você veja o problema e passe um remédio”. Nosso colega, pálido, pediu a um colega que o acompanhasse. O colega falou que o acompanhava, mas que não ia dar opinião, já que não entendia do assunto.
Então, sem mais outra desculpa, saíram do bar ele, o tio e este colega que foi acompanhando. Chegou lá (a partir de agora, tudo foi contado pelo colega que o acompanhou), fez de conta que examinou atentamente a árvore, pegou uma lagarta na mão, examinou-a atentamente, passou uns 5 minutos calado, com ar meditativo, e soltou o diagnóstico: “O negócio é o seguinte, tio: a lagarta é apenas uma fase da borboleta, a fase larval. Então o melhor a se fazer nestes casos é esperar elas virarem borboletas,
que elas vão embora voando”.
O tio do nosso colega olhou atentamente para ele, sem acreditar no que tinha escutado, e falou: “Você é um agrônomo de merda”! Nosso colega voltou ao bar e contou a história, que foi espalhada por toda a universidade, valendo ao nosso amigo o apelido de “Lagarta Pintada”, apelido este que o acompanhou por todo o curso de agronomia. Apesar de ter rido muito e me divertido muito com esta história, nunca parei de pensar em como este colega se queimou por tão pouca coisa! Eu simplesmente teria dito ao meu tio: “Sinto muito, tio! Ainda não
paguei nenhuma disciplina que me permita te ajudar com isso”. Só isso! Isso teria poupado inúmeros dissabores para ele! Então gente, humildade sempre. E honestidade! Ninguém perde nada com isso!
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